Música
Para um vídeo, ser ruim pode ser ótimo, como provou Rebecca Black, com “a pior música do mundo”, e agora o rapper sul-coreano campeão de acesso no You TubeCarol Nogueira
O sul-coreano Psy (Reprodução)
A primeira cena diz tudo sobre o que vem a seguir: sentado em uma cadeira de praia, de camisa social branca, bermuda rosa e bocona aberta, um homem toma sol em um playground, isolado por um cordão que lembra uma área vip. Assim é o vídeo de Gangnam Style, com o qual o sul-coreano Psy já garantiu presença eterna na história do trash (aquele tipo de "criação artística" que busca deliberadamente ser ruim). O rapper, no entanto, conseguiu outro feito. Em dois meses, obteve 232 milhões de cliques no Youtube e 2,2 milhões de fãs no Facebook. Com isso,ganhou uma menção no Guinness, o livro dos recordes, e também no capítulo da história da cultura pop dedicado às celebridades instantâneas (e globais). No passado, o trash era para poucos. Na era da internet, isso mudou. E como em breve deverão vir outros no rastro de Psy, é o caso de perguntar: por que, afinal, a internet transforma em sucesso o que é ridículo?
As cenas de Gangnam Style brincam com a ostentação de riqueza. Em cenários como um iate, uma sauna e um carrão, Psy se une a dançarinos em uma coreografia patética, em que se mexe como se estivesse montando um cavalo. Depois que o vídeo ficou famoso, o sul-coreano explicou em entrevistas que a letra faz zombaria do distrito de Gangnam, bairro dos ricaços emergentes de Seoul, capital da Coreia do Sul. Mas não foi o conteúdo que tornou a música famosa. Para quem não não entende o coreano, o que chama atenção é mesmo o vídeo – e sua dancinha.
Além de ser repassado entre amigos, o clipe ganhou paródias que ampliaram a sua repercussão. Gangnam Style começou a ganhar releituras pouco depois de ser publicado no YouTube, em julho, primeiro na Ásia e, depois, no mundo todo. Em várias cidades, a dança foi transformada em flash mobs – eventos em que um grupo de pessoas marca pela internet de se reunir em um determinado lugar para uma performance.
A consagração definitiva da música veio na semana passada, quando, após assinar contrato com Scooter Braun, empresário de Justin Bieber e da cantora Carly Rae Jepsen, que também fez fama na internet, Psy esteve no programa da apresentadora americana Ellen DeGeneres para ensinar a coreografia a ela e à cantora Britney Spears – no YouTube, o vídeo da “aula” de Psy a Ellen e Britney já soma, sozinho, mais de 20 milhões de visualizações. O talk show foi um trampolim. Nos dias que se seguiram, o rapper participou de outros programas famosos da televisão americana, como o Saturday Night Live e o Today Show, e foi notícia no mundo todo.
O fenômeno também já chegou ao Brasil. Nesta semana, o cantor Latino, que vive pegando carona em sucessos internacionais como o kuduro, anunciou uma versão própria da música. Assim como Festa no Apê, que emprestava o ritmo do hit romeno Dragostea Din Tei e mudava completamente a sua letra, Despedida de Solteiro usa o compasso de Gangnam Style para falar sobre mulheres e pegação. “Várias pessoas me falaram que a música era a minha cara. O que me pegou foi a dancinha e a melodia grudenta. É impossível não sair cantarolando e pulando”, diz Latino, que grava um clipe da canção no próximo dia 29, durante uma festa na piscina em Florianópolis. “As pessoas gostam de ver algo absolutamente nonsense, inesperado, criativo”, afirma. E não é que Latino talvez tenha uma certa sabedoria?
O segredo – Como os filósofos já sabem há séculos, e a ciência começa agora a tentar explicar, o riso e o humor estão entre as mais potentes colas sociais. Exceto quando serve para humilhar alguém, o riso aproxima as pessoas. E é por isso que piadas e coisas bizarras ou ridículas sempre serão campeãs de popularidade nas redes sociais - outra ferramenta inventada para reunir amigos, ainda que virtualmente. Para um vídeo, ser ruim pode ser ótimo, como provou Rebecca Black, a garota que lançou aquela que chegou a ser considerada “a pior música do mundo”, Friday, no ano passado. Se a música vier associada a uma dancinha engraçada, melhor ainda - uma vez que a dança é algo que os amigos podem fazer quando estiverem juntos de verdade. Além da cavalgada de Psy, a "encaixadinha" do brasileiro MIchel Teló em Ai Se Eu Te Pego é outro exemplo disso.
Para os artistas, o problema do sucesso que vem da internet, com ou sem motivação bizarra, é que ele tende a ser efêmero. A curitibana Banda Mais Bonita da Cidade viu, no ano passado, seu vídeo da música Oração atrair milhões de pessoas em questão de dias. “Assim que fiz o upload dele no YouTube, compartilhei o link no Facebook de todo mundo que participou do clipe. Ao todo, 27 pessoas estavam envolvidas. Antes que eu fizesse qualquer outra coisa, o vídeo já tinha se espalhado sozinho”, conta Vinícius Nisi, integrante da banda e diretor do clipe. Se por um lado o grupo experimentou um sucesso meteórico que não teria sem o vídeo, por outro viu o interesse diminuir quase com a mesma rapidez. “Nós sabíamos que ia ser assim. Na época, eu falei: ‘Temos que pegar o barco e remar nele. Se o sucesso durar um ano ou dez, já estamos no lucro”, diz.
A banda aproveitou mesmo: usou seus 15 minutos de fama para arrecadar 52.000 reais em um site de financiamento coletivo para gravar seu primeiro disco. Mas quando o grupo finalmente lançou o álbum, em janeiro, não adiantava mais: o interesse havia passado e todo mundo queria saber do próximo viral. Sem novo sucesso, a banda fechou contrato com uma marca de maionese, que hoje usa o hit como jingle.
Fica a dica, Psy. É bom começar a bolar outra dancinha esdrúxula. Ou Gangnam Style, em breve, pode virar trilha de comercial de ketchup. Será que isso também poderia estourar no YouTube?
Fonte:Site Veja
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