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26 de maio de 2014

Folha relata história de Joaninha, a anã que teve trigêmeas em Natal

Da Folha de S. Paulo:

Anã mãe de trigêmeas desabafa: ‘Farei de tudo pelas minhas meninas’

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Ao descobrir que estava grávida, em 2013, Maria Ducinea da Silva levou um susto. Com 1,20 metro de altura e 35 anos, ela achava que não poderia ter filhos. Mas não só engravidou como teve três meninas de uma vez.
Após uma gravidez de risco (o útero não tinha como se expandir), marcada por dores e pela rejeição do pai das crianças, deu à luz em 2 de abril. As filhas, prematuras, estão internadas em Natal (RN), sem previsão de alta.
A mãe mora na cidade há anos, onde chegou após fugir de casa e viver nas ruas de Pernambuco, Estado onde nasceu.
Em Natal, cozinhou para fora e hoje sobrevive somente com um auxílio-doença de R$ 724 mensais.
Única da família que não cresceu, ainda fará exames para saber se tem nanismo. “Dependendo do resultado, talvez façam os exames nas meninas.”
Joaninha, como é conhecida, chora ao contar sua história e promete: “Vou dar às minhas filhas o amor que minha mãe não me deu”.
Fotos: Canindé Soares para Folha
Sonhar em ser mãe eu não sonhava. Com meu tamanho e minha idade eu achava que não ia acontecer. Descobri a gravidez num dia que passei mal. Achava que era pedra nos rins. O médico viu meu exame de sangue e falou que eu estava grávida. Pensei que fosse mentira.

Eu estava com dois ou três meses de gravidez quando descobri que eram três bebês. Quase enlouqueci. Eu pensava: como poderia carregar um, imagine agora três. Nunca pensei em aborto. Fiz pré-natal, exame de HIV, tudo. Os médicos me mandaram descansar, não andar muito, mas eu não podia.
Estava com quatro meses quando me internei pela primeira vez. Sentia muitas dores no pé da bexiga e falta de ar. Na quarta vez, a médica me internou em definitivo.

Passei uma semana com dor. Eu chorava, pedia para fazer o parto, mas a médica queria esperar porque eu estava com sete meses e uma semana. Eu não aguentava mais comer, respirar. Então, com sete meses e meio, ela resolveu tirar as meninas.

Fiquei mais preocupada depois que elas nasceram. Nasceram com 38 centímetros, foram para a UTI, ficaram doentes. Graças a Deus estão melhores. Meu maior desejo é ir para casa com elas. É uma bênção imaginar que coisinhas tão pequeninas saíram de dentro de mim.

PAI AUSENTE


Quando eu contei ao pai delas que estava grávida ele não disse nada. Simplesmente deu as costas e foi embora. Namoramos 10 ou 11 meses, mas não morávamos juntos. Ele tem 18 anos. A gente se separou por causa da mãe dele e porque ele estava ficando com outra pessoa.
Registrei as meninas só no meu nome: Maria Eduarda, Maria Elena e Maria Eloise. Eduarda é a mais braba. Foi a última a nascer e já saiu da UTI. Eloise é a mais manhosa e Elena é a mais calminha. O amor pelas três é o mesmo. E vou ter que cuidar delas sozinha.
Elas tomam leite por uma sonda. Eu tiro do meu peito, mas não é suficiente, então elas tomam complemento. Também recebi doações. Tudo o que tenho foi o povo que me deu: berço, roupa, carrinho, cômoda. O que tinha muito dei para outras mães que não tinham.
Moro em casa alugada e recebo um auxílio-doença. É só o que eu tenho. Minha casa tem quarto, sala, cozinha e banheiro. Vou ter que arranjar um canto maior.
Hoje, eu durmo e como na maternidade para acompanhar as meninas. Está sendo minha casa e a delas.

ORIGEM

Nasci em Caruaru e me criei numa cidade chamada Lagoa dos Gatos (ambos em PE). Também morei em Curitiba. Tenho irmãos lá e em São Paulo, que não vejo há muitos anos.

Tenho mais lembrança do meu pai, que morreu em 1986, do que da minha mãe. O rosto dela eu lembro mais quando pego um retrato.
Minha mãe maltratava muito a mim e a meus irmãos depois que meu pai morreu. Ela arranjou outro homem, colocou ele dentro de casa e, se ele batesse nela, batia na gente também. Ele me xingava, batia minha cabeça na parede. Para mim, minha mãe me abandonou.

Fugi de casa com 14 anos. Dormia na rua, na rodoviária do Recife. Fui para Natal de carona. Fui acolhida por uma família muito humilde. Agora moro sozinha. Não tenho ninguém da minha família de sangue por perto. Só tenho contato com meu irmão mais velho.

Quero ser a melhor mãe que puder. Uma mãe precisa fazer tudo pelos filhos. Principalmente dar amor, o que eu não tive da minha mãe.
Não vou maltratar minhas filhas. Quero ensinar a elas tudo o que minha mãe não me ensinou. Espero que cresçam com saúde, que possam estudar e ser pessoas do bem.
RENATA MOURA, DE NATAL

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