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3 de janeiro de 2019

É verdade que carne de charque é carne de jumento?



Provavelmente você já ouviu alguém falar que carne de charque é carne de jumento ou de cavalo. Quando era criança, lembro-me que meu avô falava com toda a propriedade do mundo que os equinos eram a ‘matéria prima’ principal da ‘mistura’ que eu tanto gostava com cuscuz ou com batata doce. Será verdade?

CARDE DE JUMENTO É COMERCIALIZADA?

Em 2012 a Secretaria de Agricultura do RN começou uma negociação com a China visando a venda de jumentos para comercialização da sua carne, couro e leite para as bandas do oriente, onde o animal é bastante consumido. Para você ter uma noção, somente a China consome cerca de 1,5 milhão de jumentos por ano.

A pretensão inicial do acordo com a China seria a exportação de 1 milhão de jumentos por ano, o que geraria uma receita para o Brasil de U$ 3 bilhões. A carne de jumento é considerada bem mais saudável que a bovina, possui menos gordura e é extremamente rica em proteínas. O leite é próximo ao materno em nutrientes e seus derivados são considerados iguarias.

O Estado viu a comercialização do jumento como uma solução para o problema que o animal se tornou no interior. Substituídos por motocicletas e carros, os animais, que antes serviam de força motriz para diversas atividades no campo foram covardemente abandonados pelos seus donos. Muitos desses jumentos foram parar nas beiras de estradas, causando, segundo dados de 2017 da PRF cerca de 922 acidentes por ano no Nordeste. Até o ano passado, mais de 34 mil animais já tinham sido apreendidos pelos policiais.

Também não é incomum encontrar animais mortos em meio à vegetação do interior nordestino. Centenas de animais acabam morrendo com a falta d’água que castiga o sertão, sendo essa também uma das justificativas apresentadas pelo Governo.

Apesar de todo esse quadro de abandono, há muita gente no interior do Estado que cria e cuida do animal como se fosse um verdadeiro ente familiar e a notícia da comercialização do jumento como se fosse um bovino ou suíno abalou a opinião pública do Nordeste, onde parte esmagadora da população se posicionou contra.
MAS, AFINAL, A CARNE DE CHARQUE É DE JUMENTO?

Foto: IgorSuassuna | Pixabay

A carne de charque que é comercializada hoje não é de jumento. A origem desse tipo de carne é da América do Sul. Antes mesmo de ser ‘descoberta’ pelos povos europeus, nas regiões andinas o povo já conservava a carne de Ihama deixando-a desidratada e chamavam-na de ‘charqui’. Aqui no Brasil a charque começou a ser produzida no século XVII, nas capitanias do Nordeste, sempre com a carne do boi. No entanto, com uma das maiores secas já registradas na história do país (Seca dos três setes) ficou inviável qualquer produção bovina na região.

O Rio Grande do Sul, que tinha um enorme rebanho e não passava por adversidades climáticas começou a produzir a charque e findou se tornando o maior produtor de charque do país.

Talvez a história que meu avô sempre contava, que carne de charque é carne de jumento fosse uma Fake News da época, ou realmente tenha acontecido em algum momento que se perdeu na história. O fato é que a charque é feita geralmente do quarto dianteiro ou da costela do boi e nunca, em registro, da carne de jumento, apesar do consumo do animal ser comum em outros países.
CARNE DE JUMENTO PARA AUTORIDADES

Carne de jumento servida para as autoridades em Apodi | Foto: Cnews

Em 2014, o promotor Sílvio Brito fez uma almoço e convidou várias autoridades de Apodi e das redondezas (até o padre tava no meio) para degustar a carne do equino. A ideia do promotor era convencer as autoridades de que a carne do animal pode ser uma fonte de proteínas e nutrientes, embora desprezada apenas em razão de questões culturais. Esse almoço foi alvo de fortes críticas de ambientalistas, que explicaram que a reprodução dos jumentos ocorre de dois em dois anos – um filhote por ano. Com o abate, a espécie seria extinta em pouquíssimo tempo.

Por TodoNatalense.

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