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17 de novembro de 2020

Coronavírus: segunda onda no Brasil?


Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de Covid-19 no país e alerta para o risco de uma nova onda



Na semana passada, escrevi neste espaço sobre os sinais que vinham da segunda onda de Covid-19 na Europa e que deveriam servir de alerta para o Brasil. Agora, já começaram a surgir nossos próprios sinais internos, com crescimento no número de casos e de mortes em algumas regiões do país. Ainda não dá para dizer que estamos em uma segunda onda, até porque não chegamos a sair completamente da primeira. Mas parece ser, no mínimo, um repique da doença, no momento em que muitos estados flexibilizaram as normas de circulação.

Há diversos dados mostrando um recrudescimento da pandemia no Brasil. De acordo com a maior rede de medicina diagnóstica do país, a procura por exames de Covid-19 em sua rede cresceu 30% em São Paulo e 50% no Rio de Janeiro nos primeiros dias de novembro. Em outubro, a taxa de positividade dos exames realizados nas suas unidades era de 19%. Em novembro, está em 27%. Significa dizer que, em outubro, de cada 100 exames, 19 davam positivo. Agora em novembro, a média subiu para 27 positivos, um crescimento de 42%.

Segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz, nove das 27 capitais brasileiras registram hoje tendência de alta no número de casos diagnosticados. À exceção de Florianópolis, todas as capitais com agravamento na pandemia ficam nas regiões Nordeste (seis capitais) e Norte (duas capitais). As altas mais fortes foram detectadas em Florianópolis, João Pessoa e Maceió. Alta moderada é vista em Belém, Fortaleza, Macapá, Natal, Salvador e São Luís.

Na análise das 27 unidades da Federação, há atualmente 10 com aceleração da pandemia, quando se compara a atual média móvel diária de mortes com o mesmo indicador registrado há duas semanas. Pela ordem, as maiores acelerações se dão hoje em Roraima (+1.000%), Amapá (271%), Paraná (179%), Rio Grande do Norte (+163%), Mato Grosso (87%), Tocantins (62%), Acre (50%), São Paulo (42%), Distrito Federal (33%) e Rondônia (28%).
Internações

No Estado de São Paulo, levantamento da ferramenta Info Tracker, desenvolvida por pesquisadores da USP e da Unesp, mostra aumento nas internações na rede municipal de saúde. Na capital, a alta é de 9%. Na Baixada Santista, de 23%, e na região norte da Grande São Paulo, de 37%. Na rede privada, já há crescimento de 40% no volume de internações nos principais hospitais paulistanos.

Desde o final de agosto, a média móvel de mortes vinha caindo no Brasil. Saímos de uma média móvel de 1.003 óbitos/dia, em 22 de agosto, para 323/dia no último dia 11. Mas a parte mais recente dessa queda, desde o início de novembro, tinha se dado em função de um represamento de dados provocados por instabilidades no sistema oficial de registros.

Tanto que nos últimos quatro dias os registros foram atualizados e a média móvel subiu para 486 mortes/dia, patamar que parece refletir mais nossa atual realidade. É o maior indicador desde 22 de outubro, quando a média estava em 491.

O número de casos registrados também voltou a crescer nos últimos 10 dias. Neste domingo, atingiu 28.425 casos/dia, o maior patamar desde 24 de setembro, quando a média móvel de casos estava em 28.902. A última semana epidemiológica fechada (a 46ª do ano) já acumula 195,4 mil casos diagnosticados, o maior volume semanal em oito semanas.

É preciso ficar atento ao comportamento das estatísticas nas próximas duas semanas, inclusive porque saberemos se as eleições deste domingo terão efeitos colaterais na curva de contaminação da Covid-19. Só assim será possível afirmar se estamos diante de um repique da doença ou se a flexibilização das regras de isolamento social em quase todo o país – e também a flexibilização do distanciamento social adotada individualmente por muitas pessoas – nos levará a uma nova escalada da pandemia no país.

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

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