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Há três anos, cantor de Ouricuri (PE) rodava feiras distribuindo seu CD caseiro de forró. Hoje ele é o destaque romântico entre os artistas mais ouvidos no Brasil; ouça história em podcast.
Ele nasceu e cresceu num palco de forró, escreveu um hit nacional no caderno da escola, mas penou até soltar a voz em sucessos como "Tenho medo", "Letícia" e "Volta comigo bb".
O podcast G1 Ouviu conta a saga de Zé Vaqueiro, que há três anos saía pelo sertão de Pernambuco distribuindo seus CDs de forró caseiro e fazendo shows até de graça, e hoje virou um dos cantores mais ouvidos do país. Ouça acima.
José Jacson, o Zé Vaqueiro que canta o hit 'Letícia', compôs 'Vem me amar', hit na voz Jonas Estilizado, e assinou com o novo escritório de Xand Avião — Foto: Divulgação
Forró e Roberto Carlos
Ele mistura o som do forró eletrônico com um romantismo clássico no pop brasileiro. Tudo veio de berço. Nara de Sá era uma cantora de forró e Ouricuri, no sertão de Pernambuco. Em 1999 ela estava trabalhando muito, mesmo com o Zé na barriga. O bebê resolveu nascer no meio de um show.
"No dia em que eu nasci ela estava fazendo um show e entrou em trabalho de parto. E aí foi só 'as carreiras' pra ir pro hospital", diz o filho.
A cantora sabia reconhecer um talento quando ouvia. Não era coisa de mãe coruja. Quando Zé era adolescente, ela começou a cantar com ele entre um show e outro. Quando estava em cima do palco, resolveu dar um susto no filho. Foi a primeira apresentação da vida dele.
"Ela estava fazendo um show em Ouricuri e me chamou para cantar. Eu estava morrendo de vergonha, tinha muita gente. Subi no palco, fechei o olho e cantei. Foi a experiência da minha vida", ele lembra.
A música era "Amor perfeito", de Roberto Carlos, cuja linha melódica e lírica tem tudo a ver com o que Zé Vaqueiro faz hoje. Mas ele ainda trabalharia vendendo sorvete, na barraca de lanche da avó e, por último, como ajudante em um lava-jato.
Ele nunca reclamou do trabalho, mas nesse tempo já cantava em festinhas e bares. Resolveu apostar mesmo quando começou a crescer no Nordeste o tal forró mais acessível, com a base feita no teclado, sem bateria nem superprodução.
A ideia era também seguir a linha do
forró de vaquejada, por isso ele escolheu o nome artístico Zé Vaqueiro. No fim das contas, acabou caindo muito mais para a pisadinha do que a vaquejada. Mas o nome é sonoro e tem uma simplicidade que combina com o artista.
Vaqueiro na moto
Já como Zé Vaqueiro, ele gravou seu primeiro álbum. Mas era uma coisa bem caseira. "A gente fez 50 cópias. Eu botei num saquinho, imprimi a capa e divulguei nas feiras da região na minha cidade, numa (moto) Pop 100", ele conta.
Além de rodar com seu saquinho de CDs, o jovem Zé Vaqueiro viajava para fazer shows carregando o teclado e o tecladista junto na moto - detalhe que ajuda a entender como a pisadinha, feita no teclado, deu uma chance a artistas com pouca estrutura.
"Tinha show que eu ia sem cachê, só para divulgar o trabalho. Fiz muito show de graça, outros que eu não recebi o que era combinado... No começo, botava um teclado no meio e ia fazer de moto. Depois quando passou a fazer de carro, eu passei um tempão dormindo no carro, na estrada", ele lembra.
Zé Vaqueiro continuou a rodar, ficou cada vez mais conhecido na região, e também resolveu escrever suas músicas.
Jovem compositor
Aí entra outro personagem: seu tio Júnior Baladeira. Ele era conhecido em Ouricuri como poeta e cantor. Zé foi perguntar ao Tio Júnior como era esse negócio de compor. E daí saiu um futuro hit nacional, “Vem me amar”.
"Foi a primeira música que eu compus", ele lembra. Ele falou: 'Rapaz, você tem que colocar no papel o que está sentindo aí.' Aí eu peguei um caderno antigo do governo, do tempo que eu estudava na escola estadual."
A música escrita no caderno da escola foi ficando conhecida, acabou mais tarde gravada pelo ídolo do forró Jonas Esticado e virou sucesso nacional - com o nome de Zé Vaqueiro ainda só no crédito, não nos holofotes.
Zé & Ivis
O Zé já era revelação regional do piseiro e gravou em 2019 o sucesso "O povo gosta é do piseiro", parceria com Eric Land. Mas seu som não estava completo. Faltava o encontro com DJ Ivis, que virou produtor do Zé Vaqueiro e ajudou a transformar o sucesso local em fenômeno nacional.
Juntos, Zé e Ivis fazem o desenho melódico das músicas nos mínimos detalhes até colocar a camada rítimica de piseiro, que é cheia de efeitos, climática, com toques de synth-pop.
"É uma energia que acontece quando a gente está no estúdio que eu não sei nem explicar. A gente sente a música mesmo, a composição, a melodia. Deixa o som 'altão', para a gente sentir mesmo. Tem que ter a sintonia, senão a música não vira", ele descreve.
Eurodance substituído
O som de Zé Vaqueiro com DJ Ivis ficou mais cosmopolita. Ele diz que gosta tanto de Luiz Gonzaga quanto de Michael Jackson. E nessa "internacionalização", aconteceu um caso curioso. Ele incluiu na música nova "A Recaída" um sample de “What is love”, eurodance de 1992 do alemão Haddaway.
A mudança do trecho de Haddaway pelo sax foi preventiva, diz o artista. "Foi um probleminha, mas deu tudo certo, graças a Deus. A gente evitou para não acontecer nada de ruim, mas deu tudo certo, a música está aí estourada", ele desconversa.
Estourado no YouTube
Houve comentários no video lamentando a retirada do sample, mas ninguém parou de ouvir a música. Zé Vaqueiro é um fenômeno no YouTube - no final de maio, era o 2º artista mais ouvido no Brasil no site, atrás apenas do seu parceiro DJ Ivis.
Claro que a mãe, que foi cantora, e a avó, que ainda guarda os caderninhos de composição do neto, estão bobas com o sucesso. "Nossas, ficam muito felizes de me ver passar num programa de TV", ele diz, igualmente satisfeito.
O distribuindo seus CDs de forró caseiro e fazendo shows até de graça, e hoje virou um dos cantores mais ouvidos do país. Ouça acima.
Forró e Roberto Carlos
Ele mistura o som do forró eletrônico com um romantismo clássico no pop brasileiro. Tudo veio de berço. Nara de Sá era uma cantora de forró e Ouricuri, no sertão de Pernambuco. Em 1999 ela estava trabalhando muito, mesmo com o Zé na barriga. O bebê resolveu nascer no meio de um show.
"No dia em que eu nasci ela estava fazendo um show e entrou em trabalho de parto. E aí foi só 'as carreiras' pra ir pro hospital", diz o filho.
A cantora sabia reconhecer um talento quando ouvia. Não era coisa de mãe coruja. Quando Zé era adolescente, ela começou a cantar com ele entre um show e outro. Quando estava em cima do palco, resolveu dar um susto no filho. Foi a primeira apresentação da vida dele.
"Ela estava fazendo um show em Ouricuri e me chamou para cantar. Eu estava morrendo de vergonha, tinha muita gente. Subi no palco, fechei o olho e cantei. Foi a experiência da minha vida", ele lembra.
A música era "Amor perfeito", de Roberto Carlos, cuja linha melódica e lírica tem tudo a ver com o que Zé Vaqueiro faz hoje. Mas ele ainda trabalharia vendendo sorvete, na barraca de lanche da avó e, por último, como ajudante em um lava-jato.
Ele nunca reclamou do trabalho, mas nesse tempo já cantava em festinhas e bares. Resolveu apostar mesmo quando começou a crescer no Nordeste o tal forró mais acessível, com a base feita no teclado, sem bateria nem superprodução.
A ideia era também seguir a linha do
forró de vaquejada, por isso ele escolheu o nome artístico Zé Vaqueiro. No fim das contas, acabou caindo muito mais para a pisadinha do que a vaquejada. Mas o nome é sonoro e tem uma simplicidade que combina com o artista.
Por G1