Seis meses depois de sancionada a Lei 12.705, que dá prazo de cinco anos para o Exército preparar suas três escolas de formação de tropas combatentes para receber mulheres, os estudos para promover as adaptações nas unidades ainda estão na fase inicial.
O grupo de trabalho criado pelo Exército está coletando dados nas escolas para elaborar documento com as recomendações.
O grupo de trabalho criado pelo Exército está coletando dados nas escolas para elaborar documento com as recomendações.
O
Centro de Comunicação Social do Exército, em nota, respondeu que o
ingresso das mulheres nas referidas escolas ainda depende de
regulamentação. Com a mudança, as mulheres que cursarem a Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), a Academia Militar das
Agulhas Negras (Aman) ou a Escola de Sargentos das Armas (ESA) poderão
integrar patrulhas e missões de confronto e de paz.
Enquanto
esperam, as que optam pela carreira militar no Exército desempenham
funções nas áreas de saúde, direito, informática, comunicação social,
medicina veterinária, enfermagem e magistério. Entre os cerca de 200 mil
militares da Força em todo o país, elas são 7 mil, ou 3,5% do efetivo.
As
mais persistentes, no entanto, já chegaram à Brigada Paraquedista, no
Rio de Janeiro, considerada uma das tropas mais exigentes e bem
treinadas das Forças Armadas. Desde 2006, o curso básico de formação de
paraquedistas militares, para voluntários, formou 54 mulheres. Neste
ano, mais três estão prestes a finalizar o curso de seis semanas.
As
três mulheres dividem a turma com 205 homens. Elas não se intimidam com
o treinamento rigoroso, de exercícios físicos e muita pressão
psicológica durante oito horas por dia, de segunda a sexta-feira. O
uniforme camuflado não tem corte feminino, apenas a numeração é menor. O
esforço desafia os limites do corpo e da mente no vale-tudo para fazer
parte da elite paraquedista do Exército, os conhecidos boinas grená e
botas marrom.
“O
curso trabalha a parte motora e o emocional do aluno, até ele atingir o
equilíbrio e ter condições de saltar, tornando-se um paraquedista.
Exigimos resistência, coragem, determinação e liderança e as mulheres
têm correspondido. Já tivemos caso de desistência voluntária, mas a
maioria delas chega ao fim com o mesmo fôlego do início”, explica o
instrutor do curso, major Alan.
Como
os homens, as mulheres participam dos exercícios simulados de salto com
armamento e mochila na altura do ventre, com material de sobrevivência,
cujo peso fica em torno de 10 quilos. O equipamento completo de salto,
incluindo o paraquedas, pesa 40 quilos.
A
identificação dos alunos é feita por números no capacete. O 29 é a
tenente médica pediatra Ana Carolina, de 32 anos. Mineira de Belo
Horizonte, solteira, ela está há um ano no Exército. Disse que optou
pela carreira militar porque sempre teve interesse em oferecer seus
conhecimentos para o Exército, em regiões carentes de assistência
médica, como nas fronteiras. O curso de paraquedista veio para completar
sua formação.
“Obviamente,
não temos a mesma força do homem, a mesma capacidade física, mas a
gente também pode ter a coragem, a garra, a fibra que eles têm. Quanto
ao relacionamento com os colegas, é excelente. Até pensei que fosse ter
alguma dificuldade, mas na verdade eles tentam nos proteger mais do que
precisavam, mas sem discriminar. Eles tentam mais é ajudar, mesmo”,
relatou a médica, que depois da formatura no curso vai servir em São
Luis (MA).
O
capacete 276 é da sargento Alessandra Cristina Lopes Alves, de 22 anos.
Nascida e criada em Realengo, subúrbio do Rio de Janeiro, a jovem, que
também está há um ano no Exército, como técnica de enfermagem, disse que
decidiu fazer o curso de paraquedista para saber o seu limite. Depois
de formada, Alessandra vai servir no quartel de Caçapava (SP).
“Vim
buscar o meu limite, ver se eu consigo. Deus está me dando força,
coragem, porque é um curso que exige muito da pessoa. A família e os
amigos ficaram com medo no início, mas agora eles aceitam porque sabem
que estou feliz. Não tenho que abrir mão do que gosto, mas se queremos
alcançar algum objetivo, precisamos nos afastar de algumas coisas”,
disse.
Já
o capacete 275 é usado por Janaína Luiza Pereira de Carvalho, de 24
anos. Ela é de Brasília, passou no concurso para técnica de enfermagem
no ano passado e se mudou para o Rio de Janeiro.
Mesmo
admitindo não pretender seguir carreira no Exército, disse estar
satisfeita com o trabalho. “Nunca sofri discriminação. Pelo contrário,
meus amigos me apoiam. Acho que vale a pena pelo crescimento pessoal”.
Depois do curso, Janaína voltará para Brasília. Irá servir no Hospital
do Exército.
@FOLHADOSERTAO
agênciabrasil
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