2 de março de 2014

Hábito de homens se fantasiarem de mulher no carnaval é um ritual de inversão. Entenda mais

O carnaval de 2014 expõe novamente um hábito bastante comum entre os homens, durante bailes e desfiles que festejam a data: usar fantasias de mulher. Na avaliação da socióloga Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o costume poderia surpreender nos anos de 1940, no Rio de Janeiro, mas atualmente “já se tornou quase um lugar comum”.

Ela explicou hoje (2) à Agência Brasil que a preferência dos rapazes por usar roupas femininas no carnaval revela uma vontade de transgredir. “Esse atravessamento de gênero, justamente de homens fortes vestidos com roupas de mulher, com salto alto, se tornou uma marca do carnaval, que acentua, na cultura brasileira, esse momento de transgredir com uma série de coisas”.

Segundo a socióloga, a transgressão de gênero é a mais simples de ser produzida com uma fantasia. “Por outro lado, é a mais surpreendente. Virou uma marca, realmente, do carnaval carioca”.

O antropólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto DaMatta, disse à Agência Brasil que o costume de homens se fantasiarem de mulher sempre existiu. “É permanente em todos os carnavais. E digo mais, até em carnavais na Rússia de Catarina II, em 1700”.

Para DaMatta, como para os demais antropólogos, o ritual carnavalesco ocorre na maioria das sociedades do mundo, “senão em todas”. Trata-se do ritual da inversão. “É o ritual da licença, onde os opostos da sociedade rotineiros se invertem. As mulheres podem se comportar como homens, caso dos destaques das escolas de samba. São as supermulheres que os homens têm medo de chegar perto. Elas são castradoras de tão bonitas e agressivamente eróticas”. Essas mulheres se transformam nos 'dom Juan' (conquistador) de outrora, comparou. DaMatta argumenta que nos próprios blocos de rua, as mulheres apresentam agora um comportamento sexual mais agressivo.
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FOLHA DO SERTÃO 

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