"Ele me deu a oportunidade de viver", complementou a atriz ao Fantástico
Foto/Reprodução
R7 - Camila Pitanga contou, em entrevista exclusiva ao Fantástico deste domingo (18), como foram os momentos de desespero vividos ao lado de Domingos Montagner, morto na última quinta-feira (15), afogado no rio São Francisco após um mergulho. À repórter Sônia Bridi, da Globo, a atriz detalhou como aconteceu o acidente que tirou precocemente a vida do ator de 54 anos.
— A gente tinha meio que apalavrado de se encontrar com o Gabriel (Leone, ator) para tomar esse banho de rio. O Gabriel estava indo gravar. A gente falou com a Lucy Alves (atriz), mas quando eu estava mandando mensagem para ela, ela já estava partindo, indo embora, eu não sabia, mas acabou que, por acaso, só nós dois podámos ir naquela hora.
Camila disse que ela e o ator decidiram ir ao lugar do acidente por acaso.
— A gente nem ia para lá, a gente ia para outro lugar. E a gente acabou achando que era mais simples ir [na área conhecida como Prainha]. A gente não queria chamar a atenção porque sempre com ator tem isso: a gente vai a um posto de gasolina, tomar uma água, tudo vira um evento, vira uma coisa maior.
E Camila seguiu em seu depoimento.
— E a gente foi para a direita, e vimos que nessa direita tinha uma água meio parada, meio um lodo, uma coisa que não era muito convidativa. Havia uma pedras. Domingos subiu nessas pedras e falou: "Cá, aqui está lindo, aqui está ótimo, vamos mergulhar aqui". Isso já nos afastava do litoral, da faixa de areia que dava pé. Domingos mergulhou logo de cabeça. Eu, mais cabreira, sou mais medrosa nesse negócio de saltar, fui devagarinho, notei que tinha uma pedra com uma marolinha batendo. Ai tem um detalhe: a gente estava nadando a favor de uma correnteza muito perene, muito suave, que a gente não percebeu. Então a gente já mergulhou num lugar que tinha profundidade, mas o olhar, para qualquer pessoa, é de tudo parado.
A atriz disse à jornalista que não sentiu nenhuma mudança na corrente da água.
— Qual era o meu medo? Por que minha luz se acendeu? A gente pode se machucar na pedra. "Vamos voltar", eu disse. Ele disse, "claro, vamos voltar, nadando". O Domingos foi na minha frente, eu estava um pouco mais próxima da faixa de areia. A gente perdia sempre [para a correnteza]. Por mais que fosse suave, a gente nadava, nadava, nadava e ficava. Mas isso não se estendeu por muito tempo.
Camila contou que nesse momento ainda não havia tempo para exaustão, pois tudo aconteceu muito rápido.
— Quando percebi que eu não conseguia vencer essa correnteza, que era muito suave, eu me desesperei. Vi que estava respirando errado. Eu não estava tendo noção mesmo do que estava acontecendo. Notei que na nossa lateral tinham pedras e falei: "vamos para lá", porque voltar, a gente não estava conseguindo. Quando me aproximei de uma pedra, eu me acalmei. Eu dizia: "vem, Domingos, aqui está tudo certo". E notei que Domingos não nadava. E estava assustado. Não sou heroína, nada disso. Para mim estava tudo tranquilo. Então, naturalmente, se foi tão fácil eu chegar até lá, seria fácil voltar e ajudar meu amigo que está com medo.
A atriz relatou que conseguiu chegar até o ator para tentar ajudá-lo. Mas sem sucesso.
— Peguei no antebraço dele e puxava. Dizia "calma, está tudo bem". E ele não vinha. Soltei o braço dele. Fui para a pedra para mostrar para ele que estava tudo bem. Ele não saia do lugar. Ele não falava nada. Ele estava paralisado. Então voltei de novo. Peguei de novo no braço dele. Ele falava: "eu não estou conseguindo". Então eu falei: "então boia, boia". E comecei a gritar socorro. Foi quando ele submergiu pela primeira vez. Ele falava "eu não estou conseguindo". Quando ele submergiu, eu entendi o problema que a gente estava vivendo.
Camila disse que naquela hora sabia que também corria risco.
— Era um desespero, mas alguma coisa me dizia "não vai" [tentar resgatá-lo]. Eu comecei a gritar, eu me arranhava, me batia, chamava, chamava e chamava, porque não tinha ninguém. Eu dizia que era grave, tem alguém ali dentro da água, e eu sabia que eu não podia ir. Eu acho que, provavelmente, alguma coisa devia estar segurando a perna dele e ele, lindo que é, generoso que é, não dividiu a real comigo. Saber que você não pode salvar o seu amigo, que não dá, porque se não você vai... Pensei na minha filha e ele sumiu.
Camila encerrou dizendo que Domingos deu a ela a oportunidade de viver.
— Em nenhum momento ele me pegou, me agarrou. Ele estava, na verdade, tentando se segurar, por isso ele não nadava. Ele me salvou. Por isso acho que ele sabia o que estava fazendo. E ele me deu a oportunidade de viver. E eu vi o último olhar dele. Ele não estava desesperado, ele não queria ir, ele estava cheio de vida, cheio de projetos. Ele tinha uma família linda que eu pude conhecer, que foram extremanente generosos comigo, que me acolheram. Porque é muito duro você relatar isso para a família. Tive uma segunda chance de estar com os meus amigos, com a minha filha, com a minha família.
Porta nco
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