(Getty Images/Getty Images)
Café
Ele e o cérebro vivem uma relação quase sempre de amor. Tanto é que, na maioria das vezes, é a falta de cafeína que causa panes — aliás, ela até está presente em vários analgésicos justamente por potencializar a ação de alguns princípios ativos. “Quem toma a bebida diariamente pode sentir desconforto depois de mais de 24 horas sem nenhuma dose”, explica Vincent Martin.
Nesse contexto, se experimenta literalmente uma crise de abstinência. “Se for o caso, uma xícara no começo do episódio até alivia um pouco”, ensina José Geraldo Speciali, neurologista da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
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Por outro lado, o exagero faz mal especialmente aos pouco habituados, mas não só a eles. “Beber quantidades maiores do que 400 miligramas por dia aumenta o risco de a ansiedade aparecer mesmo se a pessoa estiver acostumada, o que piora a enxaqueca”, completa o médico. Os especialistas recomendam que o consumo fique em no máximo três xícaras por dia. Vale lembrar que há cafeína também nos refrigerantes, suplementos de academia e em outras bebidas.
Realçadores de sabor
O aditivo alimentar mais associado ao transtorno é o glutamato monossódico. A substância tem vocação natural para atuar na massa encefálica. “O que se acredita é que a presença dele excita o sistema nervoso, ocasionando a dor”, detalha Laís, da UFMG.
No entanto, o ácido glutâmico, a base desse ingrediente, está presente naturalmente em alimentos como carnes, queijos e alguns legumes. Por isso, é difícil dizer se é ele mesmo o culpado. Parece que a encrenca se dá com a versão feita em laboratório e encontrada em congelados, no molho de soja e em outros industrializados. Ah, o estudo da Universidade de Cincinnati mostrou que há uma variante mais perigosa desse item. “Sua absorção aumenta quando ele está diluído em preparos líquidos”, destaca Vincent Martin.
Salaminhos e companhia
Aqui o culpado é outro composto químico: o nitrito, usado para preservar a cor rosada e dar sabor curado e defumado ao bacon, à salsicha e a embutidos em geral. Em excesso, ele favorece a vasodilatação, o que não é ruim — a menos que você esteja entre os 15% dos brasileiros que têm enxaqueca.
Nesse grupo, o relaxamento dos vasos quando o sangue passa causa dor porque as terminações nervosas que recobrem esses caminhos estão hipersensíveis. Aí qualquer onda é percebida como um tsunami. “Mas vale esclarecer que a vasodilatação é precedida por outros fenômenos e não é a causa em si do problema”, diferencia Kowacs. “Agora, a influência do nitrito sobre outras substâncias pode ocasionar uma crise até seis horas depois de ele ser ingerido”, completa.
Álcool
Não é preciso nenhum estudo para perceber que a bebedeira bagunça a cabeça. Por isso, vale aqui uma diferenciação.
Há a dor da ressaca, causada pela desidratação e por outros efeitos do abuso de álcool no organismo, e há a enxaqueca disparada por drinques específicos, quando basta uma dose para estragar a happy hour.
Nesse quesito, o campeão é o vinho tinto, cheio de moléculas benéficas para as artérias, mas disparadoras de dor para alguns azarados. E, diferentemente do que muita gente pensa, não é a qualidade ou a origem da bebida que fazem estrago.
“Um estudo já comparou as queixas depois de goles de rótulos nacionais e importados e viu que mais gente reclamava após tomar o vinho francês”, conta Kowacs.
Também, entram no rol inglório de perturbadoras da paz cerebral a vodca, a cerveja e outras bebidas fermentadas.
“Parece haver uma ação das aminas presentes no líquido em alguns neurotransmissores envolvidos no desenvolvimento da crise”, aponta Laís.
Nesse caso, não tem muita solução a não ser cortar as taças da rotina até que o problema esteja sob controle. Já para evitar a dor de cabeça comum, a dica é tomar água entre as doses e não brindar de barriga vazia — além de beber com moderação, sempre.
Chocolate
Eis um clássico na lista. É que o cacau contém teobromina, substância com efeito estimulante e vasodilatador também encontrada no vinho tinto — e algumas pessoas são sensíveis a ela. O chocolate branco até tem essa molécula, mas em menores quantidades.
E há ainda uma associação curiosa nessa história: o desejo incontrolável pelo doce. “Muitos dizem que o chocolate foi o estopim, mas na verdade a própria fissura já é um sinal do comportamento alterado que precede a crise de enxaqueca em 60% dos casos”, decifra Kowacs.
A fase que antecede o sofrimento é chamada de pródromo e começa até dois dias antes da dor em si. Além da vontade intensa, durante esse tempo é normal sentir alterações de humor, como irritabilidade, euforia e picos de energia, sem contar perrengues como enjoo.
O quadro ainda está sendo investigado pela ciência, mas já se sabe que provoca alterações no hipotálamo — importante região do cérebro que comanda a resposta emocional ao metabolismo — e diminui o nível de alguns neurotransmissores.
Queijos
Embora os gordurosos levem a fama, qualquer variedade é capaz de ofender o sistema nervoso dos mais suscetíveis. “Como são derivados lácteos, todos os queijos possuem componentes que servem de gatilho à dor, a exemplo de proteínas grandes demais para serem digeridas e potencialmente alergênicas”, diz Laís.
Nos organismos mais sensíveis, essas proteínas são confundidas com agentes agressores e atacadas pelas defesas do corpo, numa reação em cadeia que leva ao desconforto.
Mas a balança pesa mesmo para os tipos mais calóricos, caso do gorgonzola e do parmesão, e os curados e envelhecidos.
“Ainda não temos muitos estudos sobre os mecanismos desse processo, mas parece que a própria gordura, presente em maiores quantidades, favoreceria o ataque”, completa a nutricionista. Sem contar que o queijo tem tiramina, componente encontrado em outros itens desta lista negra como o… vinho!
Outros fatores que abalam a cuca
Jejum
A fome e a sede dão dor de cabeça mesmo em quem não sofre com a enxaqueca. E pelo motivo mais óbvio: a falta de combustível para o cérebro.
Sono
As poucas horas de descanso refletem no dia seguinte, mas até o excesso de tempo na cama pode bagunçar o coreto. O ideal é manter a rotina.
Ambiente
Cheiros fortes ou mesmo bem específicos, como certo perfume, claridade, luzes coloridas e muito barulho também entram na lista.
Estresse
É batata: se a tensão está em alta, não há dieta que dê conta de aliviar a dor. Não é à toa que ele é considerado o principal desencadeante das crises.
Doenças
O médico precisa ser consultado sempre para descartar outros males que têm a cefaleia como sintoma, a exemplo de derrames, meningite e até tumores.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Saúde.
Direto do site Exame/portal nco
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