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Há três anos, cantor de Ouricuri (PE) rodava feiras distribuindo seu CD caseiro de forró. Hoje ele é o destaque romântico entre os artistas mais ouvidos no Brasil; ouça história em podcast.
Zé Vaqueiro leva um romantismo elegante para a festa do piseiro. José Jacson Siqueira dos Santos Junior, de 22 anos, é uma espécie de crooner da pisadinha, o forró feito no teclado. Ele é um dos cantores que dispararam entre os mais ouvidos no Brasil em 2021 - e o mais romântico da nova turma.
Ele nasceu e cresceu num palco de forró, escreveu um hit nacional no caderno da escola, mas penou até soltar a voz em sucessos como "Tenho medo", "Letícia" e "Volta comigo bb".
O podcast G1 Ouviu conta a saga de Zé Vaqueiro, que há três anos saía pelo sertão de Pernambuco distribuindo seus CDs de forró caseiro e fazendo shows até de graça, e hoje virou um dos cantores mais ouvidos do país. Ouça acima.
José Jacson, o Zé Vaqueiro que canta o hit 'Letícia', compôs 'Vem me amar', hit na voz Jonas Estilizado, e assinou com o novo escritório de Xand Avião — Foto: Divulgação
Forró e Roberto Carlos
Ele mistura o som do forró eletrônico com um romantismo clássico no pop brasileiro. Tudo veio de berço. Nara de Sá era uma cantora de forró e Ouricuri, no sertão de Pernambuco. Em 1999 ela estava trabalhando muito, mesmo com o Zé na barriga. O bebê resolveu nascer no meio de um show.
"No dia em que eu nasci ela estava fazendo um show e entrou em trabalho de parto. E aí foi só 'as carreiras' pra ir pro hospital", diz o filho.
A cantora sabia reconhecer um talento quando ouvia. Não era coisa de mãe coruja. Quando Zé era adolescente, ela começou a cantar com ele entre um show e outro. Quando estava em cima do palco, resolveu dar um susto no filho. Foi a primeira apresentação da vida dele.
"Ela estava fazendo um show em Ouricuri e me chamou para cantar. Eu estava morrendo de vergonha, tinha muita gente. Subi no palco, fechei o olho e cantei. Foi a experiência da minha vida", ele lembra.
A música era "Amor perfeito", de Roberto Carlos, cuja linha melódica e lírica tem tudo a ver com o que Zé Vaqueiro faz hoje. Mas ele ainda trabalharia vendendo sorvete, na barraca de lanche da avó e, por último, como ajudante em um lava-jato.
Ele nunca reclamou do trabalho, mas nesse tempo já cantava em festinhas e bares. Resolveu apostar mesmo quando começou a crescer no Nordeste o tal forró mais acessível, com a base feita no teclado, sem bateria nem superprodução.
A ideia era também seguir a linha do forró de vaquejada, por isso ele escolheu o nome artístico Zé Vaqueiro. No fim das contas, acabou caindo muito mais para a pisadinha do que a vaquejada. Mas o nome é sonoro e tem uma simplicidade que combina com o artista.
Vaqueiro na moto
Já como Zé Vaqueiro, ele gravou seu primeiro álbum. Mas era uma coisa bem caseira. "A gente fez 50 cópias. Eu botei num saquinho, imprimi a capa e divulguei nas feiras da região na minha cidade, numa (moto) Pop 100", ele conta.
Além de rodar com seu saquinho de CDs, o jovem Zé Vaqueiro viajava para fazer shows carregando o teclado e o tecladista junto na moto - detalhe que ajuda a entender como a pisadinha, feita no teclado, deu uma chance a artistas com pouca estrutura.
"Tinha show que eu ia sem cachê, só para divulgar o trabalho. Fiz muito show de graça, outros que eu não recebi o que era combinado... No começo, botava um teclado no meio e ia fazer de moto. Depois quando passou a fazer de carro, eu passei um tempão dormindo no carro, na estrada", ele lembra.
Zé Vaqueiro continuou a rodar, ficou cada vez mais conhecido na região, e também resolveu escrever suas músicas.
Jovem compositor
Aí entra outro personagem: seu tio Júnior Baladeira. Ele era conhecido em Ouricuri como poeta e cantor. Zé foi perguntar ao Tio Júnior como era esse negócio de compor. E daí saiu um futuro hit nacional, “Vem me amar”.
"Foi a primeira música que eu compus", ele lembra. Ele falou: 'Rapaz, você tem que colocar no papel o que está sentindo aí.' Aí eu peguei um caderno antigo do governo, do tempo que eu estudava na escola estadual."
A música escrita no caderno da escola foi ficando conhecida, acabou mais tarde gravada pelo ídolo do forró Jonas Esticado e virou sucesso nacional - com o nome de Zé Vaqueiro ainda só no crédito, não nos holofotes.
Zé & Ivis
O Zé já era revelação regional do piseiro e gravou em 2019 o sucesso "O povo gosta é do piseiro", parceria com Eric Land. Mas seu som não estava completo. Faltava o encontro com DJ Ivis, que virou produtor do Zé Vaqueiro e ajudou a transformar o sucesso local em fenômeno nacional.
Juntos, Zé e Ivis fazem o desenho melódico das músicas nos mínimos detalhes até colocar a camada rítimica de piseiro, que é cheia de efeitos, climática, com toques de synth-pop.
"É uma energia que acontece quando a gente está no estúdio que eu não sei nem explicar. A gente sente a música mesmo, a composição, a melodia. Deixa o som 'altão', para a gente sentir mesmo. Tem que ter a sintonia, senão a música não vira", ele descreve.
Eurodance substituído
O som de Zé Vaqueiro com DJ Ivis ficou mais cosmopolita. Ele diz que gosta tanto de Luiz Gonzaga quanto de Michael Jackson. E nessa "internacionalização", aconteceu um caso curioso. Ele incluiu na música nova "A Recaída" um sample de “What is love”, eurodance de 1992 do alemão Haddaway.
Só que, como virou praxe no forró, o sample não tem crédito. O remendo após o lançamento também é repetido. Assim como Raí Saia Rodada fez no sucesso "Tapão na raba", após a música começar a rodar, eles trocaram o sample por um sax que reproduz a mesma melodia.
A mudança do trecho de Haddaway pelo sax foi preventiva, diz o artista. "Foi um probleminha, mas deu tudo certo, graças a Deus. A gente evitou para não acontecer nada de ruim, mas deu tudo certo, a música está aí estourada", ele desconversa.
Estourado no YouTube
Houve comentários no video lamentando a retirada do sample, mas ninguém parou de ouvir a música. Zé Vaqueiro é um fenômeno no YouTube - no final de maio, era o 2º artista mais ouvido no Brasil no site, atrás apenas do seu parceiro DJ Ivis.
Zé Vaqueiro foi contratado pelo escritório do veterano Xand Avião. O novo empresário o ajudou na disputa pelo nome artístico contra outro cantor que começou a se apresentar como Zé Vaqueiro depois dele (por isso a insistência em usar o slogan "o original").
Claro que a mãe, que foi cantora, e a avó, que ainda guarda os caderninhos de composição do neto, estão bobas com o sucesso. "Nossas, ficam muito felizes de me ver passar num programa de TV", ele diz, igualmente satisfeito.
O distribuindo seus CDs de forró caseiro e fazendo shows até de graça, e hoje virou um dos cantores mais ouvidos do país. Ouça acima.
Forró e Roberto Carlos
Ele mistura o som do forró eletrônico com um romantismo clássico no pop brasileiro. Tudo veio de berço. Nara de Sá era uma cantora de forró e Ouricuri, no sertão de Pernambuco. Em 1999 ela estava trabalhando muito, mesmo com o Zé na barriga. O bebê resolveu nascer no meio de um show.
"No dia em que eu nasci ela estava fazendo um show e entrou em trabalho de parto. E aí foi só 'as carreiras' pra ir pro hospital", diz o filho.
A cantora sabia reconhecer um talento quando ouvia. Não era coisa de mãe coruja. Quando Zé era adolescente, ela começou a cantar com ele entre um show e outro. Quando estava em cima do palco, resolveu dar um susto no filho. Foi a primeira apresentação da vida dele.
"Ela estava fazendo um show em Ouricuri e me chamou para cantar. Eu estava morrendo de vergonha, tinha muita gente. Subi no palco, fechei o olho e cantei. Foi a experiência da minha vida", ele lembra.
A música era "Amor perfeito", de Roberto Carlos, cuja linha melódica e lírica tem tudo a ver com o que Zé Vaqueiro faz hoje. Mas ele ainda trabalharia vendendo sorvete, na barraca de lanche da avó e, por último, como ajudante em um lava-jato.
Ele nunca reclamou do trabalho, mas nesse tempo já cantava em festinhas e bares. Resolveu apostar mesmo quando começou a crescer no Nordeste o tal forró mais acessível, com a base feita no teclado, sem bateria nem superprodução.
A ideia era também seguir a linha do forró de vaquejada, por isso ele escolheu o nome artístico Zé Vaqueiro. No fim das contas, acabou caindo muito mais para a pisadinha do que a vaquejada. Mas o nome é sonoro e tem uma simplicidade que combina com o artista.
Por G1
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